quinta-feira, 21 de julho de 2011

Tônia Carrero

Tônia Carrero
“Ela fala pelos cotovelos!….Mas que cotovelos”, disse o escritor Rubem Braga no Degrau, bar do Leblon, sobre a mulher por quem era apaixonado, Tônia Carrero. Eles já tinham se tornado apenas amigos. Braga sussurrou isso a Paulo Mendes Campos, numa mesa boêmia. Ele, calado como sempre. Ela, desinibida, encantava como sempre.

Tônia Carrero (Maria Antonieta Portocarrero Thedim), atriz, nasceu no Rio de Janeiro, RJ, em 23 de agosto de 1922. Após longos anos de carreira, é considerada uma das mais consagradas atrizes do Brasil, com marcantes interpretações em cinema, teatro e televisão.

Apesar de graduada em educação física, a formação de Tônia como atriz foi obtida em cursos em Paris, quando já era casada com o artista plástico Carlos Arthur Thiré, pai do ator e diretor Cecil Thiré. Ao voltar da França, protagonizou o filme Querida Suzana. Foi a estrela da Companhia Cinematográfica Vera Cruz - São Bernardo do Campo - SP, tendo atuado em diversos filmes.

A estréia em teatro foi no Teatro Brasileiro de Comédia (TBC) em São Paulo, com a peça Um Deus Dormiu Lá em Casa, onde teve como parceiro o ator Paulo Autran. Após a passagem pelo TBC formou, com seu marido na época, o italiano Adolfo Celi e com o amigo Paulo Autran, a Companhia Celi-Autran-Carrero que, nos anos 50 e 60 revolucionou a cena do teatro brasileiro ao constituir um repertório com peças de autores clássicos, como Shakespeare e Carlo Goldoni, e de vanguarda, como Sartre.


Em 1965, sem a presença de Adolfo Celi, que havia guiado e impulsionado a sua carreira, Tônia cria a sua própria empresa, a Companhia Tônia Carrero, que não é mais um conjunto estável, mas uma firma que viabilizará as esporádicas montagens protagonizadas pela estrela. Interpreta com graça, ao lado de Paulo Autran, A Dama do Maxim's, de Georges Feydeau; agora dirigida por outro diretor italiano, Gianni Ratto, 1965.

Em 1968, alcança um ponto alto em sua carreira, com a patética Neusa Suely, personagem principal de Navalha na Carne, de Plínio Marcos. Sob a vigorosa direção de Fauzi Arap, artista que muito a influencia nessa fase, Tônia despe-se da sua proverbial beleza e elegância, para mergulhar fundo no sofrimento e nas humilhações de uma miserável prostituta, levando os prêmios Molière e Associação de Críticos Cariocas.

Em 1970, volta a ser dirigida por Fauzi, experimentando, em companhia de Paulo Autran, um drástico insucesso em uma montagem de Macbeth, de William Shakespeare.

Em 1971, ela interpreta a Nora de Casa de Bonecas, de Henrik Ibsen, sob a direção do seu filho Cecil Thiré. Ainda com ele, em 1974, comemora seus 25 anos de teatro com o grande sucesso comercial de Constantina, de Somerset Maugham.

Protagoniza Doce Pássaro da Juventude, de Tennessee Williams, com direção de Flávio Rangel, 1976. Dirigida por Antunes Filho, faz a pesonagem Marta de Quem Tem Medo de Virgínia Woolf?, de Edward Albee, 1978. Com direção de Adolfo Celi, em visita ao Rio de Janeiro, faz a comédia Teu Nome É Mulher, de Marcel Mithois, 1979. Protagoniza A Volta Por Cima, texto e direção de Domingos Oliveira, com direção do autor, 1982. Volta a contracenar com Paulo Autran, e sob a direção deste, no árduo texto de Marguerite Duras, A Amante Inglesa. Interpreta em 1984, com êxito de bilheteria, o papel de Sarah Bernhardt, em A Divina Sarah, de John Murrel, direção de João Bethencourt.

A partir de 1986, Tônia Carrero parece mudar radicalmente os rumos de sua carreira, deixando de investir em clássicos e textos de resultado garantido, para correr o risco na produção e na interpretação de textos modernos, com encenadores de linguagem investigativa. Sua interpretação surpreende público e crítica em Quartett, de Heiner Müller, dirigida por Gerald Thomas, que ela conhece na Off-off Brodway, em Nova York, e traz para o Rio de Janeiro, recebendo o Molière de melhor atriz. 

Em 1989, sob a direção de Marcio Aurelio, comemora 40 anos de carreira encenando um solo: vivendo Zelda Fitzgerald em Esta Valsa é Minha, de William Luce, Tônia mostra agilidade movimentando-se coreograficamente entre tapadeiras móveis no palco do Teatro Glória. Em 1990, reencontrando o parceiro de cena Paulo Autran, aventura-se em Mundo, Vasto Mundo, uma coletânea de textos de Carlos Drummond de Andrade.

Na década de 1990, atua novamente sob a direção do filho Cecil Thiré em Ela É Bárbara, de Barillet e Grédy. Em 1999, associa-se mais uma vez a um encenador mais jovem, Eduardo Wotzik, para realizar Um Equilíbrio Delicado, de Edward Albee. Em 2000, está ao lado de Renato Borghi em O Jardim das Cerejeiras, de Anton Tchekhov, direção de Élcio Nogueira.

Na TV, um dos seus personagens mais marcantes foi a sofisticada e encantadora Stella Fraga Simpson em Água Viva (1980), de Gilberto Braga. Tônia viria a trabalhar novamente com o autor, em 1983, na novela Louco Amor, dessa vez interpretando a não menos charmosa e chique Mouriel. Tanto em Água Viva como Louco Amor, Tônia perdeu o papel da vilã para Beatriz Segall e Tereza Rachel, respectivamente. Mesmo assim os dois personagens que interpretou foram um sucesso.

É avó dos atores Miguel Thiré, Luísa Thiré e Carlos Thiré, que foi casado com a atriz Isabela Garcia, que é irmã da atriz Rosana Garcia. Prestes a completar 89 anos, tendo quase sete décadas dedicadas às artes, saiu de cena. Involuntariamente. Por motivos de saúde, uma das maiores estrelas do teatro e da TV brasileira, que viveu intensamente seu ofício, está reclusa em casa, no Jardim Botânico, zona sul do Rio.

Carreira no teatro

* 1949 - Um Deus Dormiu Lá em Casa, de Guilherme Figueiredo, com direção de Adolfo Celi
* 1950 - Amanhã, se Não Chover, de Henrique Pongetti, com direção de Ziembinski
* 1953 - Uma Certa Cabana, de André Roussin (tradução de Brício de Abreu), com direção de Adolfo Celi
* 1954 - Uma Mulher do Outro Mundo, de Noel Coward, com direção de Adolfo Celi
* 1954 - Cândida, de Bernard Shaw, com direção de Ziembinski
* 1956 - Otelo, de William Shakespeare, com direção de Adolfo Celi
* 1956 - Entre Quatro Paredes, de Jean-Paul Sartre, com direção de Adolfo Celi
* 1960 - Calúnia, de Lillian Hellman, com direção de Adolfo Celi
* 1960 - Seis Personagens à Procura de um Autor, de Luigi Pirandello, com direção de Adolfo Celi
* 1965 - A Dama do Maxim's, de Georges Feydeau, com direção de Gianni Ratto
* 1968 - Navalha na Carne, de Plínio Marcos, com direção de Fauzi Arap
* 1971 - Casa de Bonecas, de Henrik Ibsen, com direção de Cecil Thiré
* 1976 - Doce Pássaro da Juventude, de Tennessee Williams, com direção de Flávio Rangel
* 1978 - Quem Tem Medo de Virgínia Woolf?, de Edward Albee, com direção de Antunes Filho
* 1984 - A Amante Inglesa, de Marguerite Duras, com direção de Paulo Autran
* 1984 - A Divina Sarah, de John Murrell, com direção de João Bethencourt
* 1986 - Quartett, de Heiner Müller, com direção de Gerald Thomas
* 2003 - A Visita da Velha Senhora, de Friedrich Dürrenmatt , com direção de Moacyr Góes

No cinema

* 2008 - Chega de Saudade
* 2005 - Vinicius (documentário), com direção de Miguel Faria Jr
* 1990 - O Gato de Botas Extraterrestre, com direção de Wilson Rodrigues
* 1988 - Sonhos de Menina Moça, com direção de Tereza Trautman
* 1988 - Fogo e Paixão, com direção de Isay Weinfeld e Márcio Kogan
* 1988 - A bela Palomera, com direção de Ruy Guerra
* 1977 - Gordos e Magros, com direção de Mário Carneiro
* 1969 - Tempo de Violência, com direção de Hugo Kusnet
* 1962 - Copacabana Palace, com direção de Steno
* 1962 - Sócio de Alcova, com direção de George Cahan
* 1962 - Esse Rio que Eu Amo, c/direção de Carlos Hugo Christensen
* 1961 - Alias Gardelito, com direção de Lautaro Murua
* 1955 - Mãos Sangrentas, com direção de Carlos Hugo Christensen
* 1954 - É Proibido Beijar, com direção de Ugo Lombardi
* 1952 - Apassionata, com direção de Fernando de Barros
* 1952 - Tico-Tico no Fubá, com direção de Adolfo Celi
* 1950 - Quando a Noite Acaba, com direção de Fernando de Barros
* 1949 - Caminhos do Sul, com direção de Fernando de Barros
* 1947 - Querida Suzana, com direção de Alberto Pieralisi

Na televisão

* 2004 - Senhora do Destino .... Madame Berthe Legrand
* 2000 - Esplendor .... Mimi Melody
* 1995 - Sangue do meu sangue .... Cecile Renon (SBT)
* 1993 - Cupido Electrônico .... D. Nenette (co-produção RTP)
* 1989 - Kananga do Japão .... Letícia Viana (Rede Manchete)
* 1987 - Sassaricando .... Rebeca
* 1983 - Louco Amor .... Mouriel
* 1981 - O Amor é Nosso .... Gilda
* 1980 - Água-Viva .... Stella Fraga Simpson
* 1979 - Cara a Cara (Rede Bandeirantes)
* 1972 - Uma Rosa com Amor .... Roberta Vermont
* 1972 - O Primeiro Amor .... Maria do Carmo
* 1971 - O Cafona .... Beatriz
* 1970 - Pigmalião 70 .... Cristina Melo de Guimarães Cerdeira
* 1969 - Sangue do Meu Sangue .... Pola Renon (Rede Excelsior)

Fontes: Wikipédia; Época; Enciclopédia Itaú Cultural.

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