sexta-feira, 16 de março de 2012

Celeste Aída

Nasceu no primeiro dia de setembro de 1916 e foi batizada como Celeste Aída Cruz. Seu nome, portanto, não é artístico como muitos pensam. Sua mãe era amante da ópera e foi num gênero semelhante, o da opereta, que Celeste Aída estreou.

Tudo começou por acaso. Em fins de 1938, aos 21 anos, Celeste foi assistir a um ensaio da peça Algemas Quebradas, de De Chocolat, com a Companhia Negra de Operetas. 

Sua figura despertou a atenção dos produtores do espetáculo, que, descobrindo sua bela voz, a contratam. Sua estreia foi ao lado de grandes nomes: Grande Otelo, Apolo Correia, Pérola Negra e Índia do Brasil.

A peça foi bem recebida pela crítica da época, e Celeste foi chamada de a flor da companhia por Mário Nunes, crítico de O Globo. Seu número de maior êxito foi o samba A Carne é Negra, que cantou ao lado de Grande Otelo.

Em seguida, Celeste foi convidada por Álvaro Pinto a participar da revista Camisa Amarela, em março de 1939, no Recreio. Ela executava o principal quadro, o samba de Ary Barroso, que dava nome ao espetáculo. Novamente Celeste foi a figura mais destacada de um elenco ainda mais estelar que o anterior, Oscarito, Eva Todor, Margot Louro e Pedro Dias.

Após a temporada no Recreio, alcançou o status de vedete, causando polêmica por fazer apresentações com roupas sumárias, sempre com o umbigo de fora. Celeste já era uma figura de destaque no elenco, quando começou a se desnudar em cena. Lançou no palco o maiô de duas peças, bem antes do biquíni. Não era exatamente bonita, era inclusive meio gordinha. Fugia um pouco do padrão de mulher boa. Mas tinha graça, um belo sorriso, e era extremamente simpática e articulada. Cativava pelo conjunto da obra.

Como a beleza não era o seu forte começou, também, a investir no tipo cômico. Uma de suas criações mais frequentes era a da mulher-invertida, uma representação da lésbica, com figurino e trejeitos masculinos. Fazia também mulheres sisudas e antipáticas. Apesar de ter construído uma carreira bem-sucedida como caricata, Celeste Aída jamais deixou de ser vedete. Exímia sambista e ótima cantora, sempre participava dos números musicais populares.

Em 1940, fez sua primeira excursão artística: uma turnê pelos Estados Unidos. Na época, chegou a ser confundida com Carmen Miranda, que ainda não era muito conhecida dos americanos.

Apesar de todo esse sucesso, Celeste não conseguia sobreviver só do ordenado de atriz. Passou a conciliar a carreira com outra atividade: foi vendedora, numa boutique da Cinelândia, centro do Rio. No mesmo ano recebeu proposta para atuar no filme argentino Embrujo, no papel de uma macumbeira. Celeste aceitou o convite. Pediu demissão de seu emprego de vendedora e recusou um contrato com Walter Pinto. Emagreceu 9 kg para atuar no filme. Mas a companhia atrasou as filmagens. Celeste perdeu dinheiro e desistiu do filme. Em seguida, ingressou na companhia de Pascoal Segreto.

Nessa época apaixonou-se pelo palhaço de circo, Petrônio Santana, conhecido como Picolé. Celeste quis ajudá-lo, financeira e artisticamente lançando-o na revista Hoje tem Marmelada?, encenada pela Companhia Jardel Jércolis, no Recreio. Era outubro de 1942, e a peça apresentava inovações, com incursões circenses.

No ano seguinte, se casou com Petrônio e trocou seu nome artístico para Colé Santana. Iniciam uma carreira como dupla, fazendo números cômicos e dançando o famoso maxixe acrobático, executado graças ao jogo de corpo adquirido pela formação circense de Colé. Em seus números de comédia, um ridicularizava o outro. Celeste passou a fazer o tipo da esposa jararaca e machona, que terminava a discussão espancando o franzino e submisso marido. O sucesso da dupla alcançou o rádio e o cinema. Colé foi a revelação cômica da época.

Celeste, com a influência de seu nome, conseguia bons contratos para o marido. Continuava com seu trabalho solo nas revistas. Sua imitação de Josephine Baker se tornou muito popular. O número passou a ser seu carro-chefe. 

No fim dos anos 1940, o casal assinava com a companhia de Geysa Bôscoli, atuando em mais de uma dezena de espetáculos, e participando de uma bem-sucedida turnê pela Argentina, no ano de 1950. Brotinhos e Tubarões (1949); Olha a Boa! (1949); Bonde do Catete (1950); Rabo de Peixe (1950) e Boca de Siri (1951) são alguns espetáculos dessa fase. Nessa época, Colé já era considerado um grande cômico. Ele era o número um da companhia enquanto Celeste ficava à sombra do sucesso do marido. Aos poucos, o casamento foi se desgastando.

Em 1951, a Cia. Geysa Bôscoli contratou um novo nome: a vedete Nélia Paula, uma mulher lindíssima, no auge da beleza e mocidade. Colé não resistiu e começou a se relacionar com a morena. O romance acontecia à vista de todos. A imprensa publicava notas sobre o affair, até que Celeste desistiu do casamento de nove anos. Pediu o desquite, em 1952. O assunto virou manchete de jornal e capa da Revista do Rádio.

Foi um período muito triste em sua vida. A traição foi dupla, pois Nélia era sua amiga e confidente. Não se deixando abater, Celeste voltou aos palcos pouco tempo depois. Foi a principal atração dos shows da recém-inaugurada boate Mandarim, em Copacabana.Tomava parte nos quadros cômicos, ao lado de Ankito. Mas foi um fracasso. Em seguida, atuou na série de espetáculos de Genésio Arruda no Teatro República. Eram peças de Tom Bill, autointituladas de comédias-chanchadas, com balé popular e números de plateia por conta da atriz.

Enquanto Colé elevava Nélia Paula ao estrelato e preparava para montar companhia própria, Celeste Aída enfrentava dificuldades sem o marido. Demorou a emplacar novamente.Tentou carreira na vida noturna de São Paulo, cantando em boates. 

Em 1955 fez sua primeira experiência como empresária e, finalmente, voltou a sentir o sabor do sucesso. Fez uma curta temporada no Teatro Madureira, da amiga Zaquia Jorge e, em seguida, estreou noTeatrinho Jardel, em Copacabana. Apresentou a revista Coquetel de Estrelas, com Lya Mara, Evilásio Marçal, Carla Nell.

A carreira de empresária, apesar da boa receptividade do público, foi pontual na carreira de Celeste Aída. Conseguiu emplacar alguns sucessos, mas constantemente era arrasada pela imprensa. No final dos anos 1950, passou a estrelar todos os seus espetáculos, atuando também como diretora artística. 

Um de seus melhores trabalhos nesse período foi a revista Disfarça e... Entra, encenada no Teatro Zaquia Jorge (antigo Madureira), em 1961. O programa da peça apresentava-a como a fulgurante estrela Celeste Aída. 

Até meados dos anos 70, continuou no teatro de revista (já em decadência), fazendo espetáculos com Silva Filho, e outros heróis da resistência. 

O ano de 1978 marcou uma tragédia em sua vida. No teatro, terminava uma temporada de Esse Lixo é um Luxo, e na televisão participava da novela Sem Lenço, sem Documento, na Rede Globo. Celeste era diabética e não sabia. Um dia, cortando um calo no pé esquerdo, machucou-se, teve uma infecção que virou gangrena. Abandonou os palcos. Depois de quatro cirurgias, amputaram-lhe a perna. Sem dinheiro para custear o tratamento e com muitas dificuldades, foi viver no Retiro dos Artistas, em Jacarepaguá.

Mesmo sem uma perna e vivendo no Retiro, Celeste não desanimava e declarava à Imprensa que queria retornar aos palcos. Seu desejo foi atendido. Foi dirigida por Hermínio Bello de Carvalho, como estrela do show Nossas Vidas são um Palco Esculachado, no João Caetano, em 1981. 

De cadeira de rodas, no mesmo teatro em que estreou em 1938, Celeste Aída fez apresentações de seus conhecidos monólogos e músicas do repertório do teatro de revista. O espetáculo, do projeto Seis e Meia, foi muito bem recebido pelo público e elogiadíssimo pela crítica.

No entanto, nova tragédia se abateu sobre Celeste. Problemas de saúde obrigaram a amputação da outra perna. Retornou ao Retiro dos Artistas e às condições modestas de vida. Vivia com apenas um salário mínimo, que mal cobria a despesa com os remédios. 

Por sua luta e vontade de viver, recebeu o título de artista símbolo do Ano Internacional do Deficiente Físico. Voltou às manchetes dando uma longa entrevista para O Globo, com o título Sem amor, sem pernas e sem dinheiro. Na reportagem só pedia que lhe concedessem um nova oportunidade para voltar aos palcos. Faleceu sem conseguir o que tanto queria.

Poucos meses antes de sua morte, a Rede Globo apresentou um programa sobre sua vida, o Caso Verdade Amar a Vida. Exibido em outubro de 1983, com direção de Milton Gonçalves, toda a carreira da atriz era narrada e interpretada por outros atores, entremeando depoimentos de colegas, como Renata Fronzi, Dercy Gonçalves e o crítico Jota Efegê.

No dia 11 de junho de 1984, aos 68 anos, foi encontrada morta em sua residência no Retiro. O corpo foi velado no Teatro Glauce Rocha, a seu pedido, e sepultado no cemitério do Caju, no Rio de Janeiro.

Fonte: As Grandes Vedetes do Brasil - de Neyde Veneziano.

Isa Rodrigues

Isa Rodrigues - c. 1940
Isa Rodrigues (Elisa Rodrigues), considerada a "Shirley Temple brasileira", nasceu em São Paulo, no dia 17 de Julho de 1927. Seus pais eram os atores Alzira e Benito Rodrigues. Isa, como já era chamada desde pequena, cresceu no ambiente teatral e foi incentivada pela própria mãe. Sua estreia deu-se em Santos, na companhia de Nino Nello e Tom Bill, com um espetáculo de variedades intitulado "O Team da Gargalhada".

Isa tinha 8 anos, mas cantou e dançou como gente grande. A menina agradou tanto que passou a integrar o elenco da companhia, que viajava pelo Estado de São Paulo. A menina era tão boa que passou a ser anunciada como a grande atração. Apresentava-se cantando e dançando samba e maxixe.

Em 1936, com nove anos de idade, já é conhecida pelo público paulista e também em outros Estados. A família, então, mudou-separa o Rio de Janeiro.

A menina foi chamada a se apresentar em um show no Teatro República (RJ), em homenagem à vedete chilena Eva Stachino, que se despedia do Brasil. No dia do grande espetáculo, estavam na plateia Carmen Miranda, Francisco Alves, Orlando Silva,Oscarito, Aracy Côrtes e Sílvio Caldas.

A menina cantou e dançou com tal desembaraço e graciosidade que foi considerada o maior sucesso da noite. Luís Iglésias, propôs um contrato com a menina, para estrear na sua próxima revista, no Recreio. O pai Benito recusou, pois estava negociando com outra companhia. Iglésias não quis nem saber o fim da história. Cobriu a oferta e ainda contratou, de quebra, os pais. Nascia a Shirley
Temple brasileira.

Sua estreia aconteceu na revista É Batatal!, ao lado de gigantes como Oscarito, Aracy Côrtes e Eva Todor. Ela fez um dueto histórico com Oscarito, cantando No Tabuleiro da Baiana, na época, recém-gravada por Carmen Miranda. O jogo de cena entre Oscarito e Isa era impagável. A crítica consagrou o surgimento da nova estrela.

A pequena Isa foi capa da tradicional Revista de Theatro, vestida de baiana. Embaixo de sua fotografia, estavam estampados os seguintes dizeres: Isa Rodrigues, a vedeta de 1937. E durante os anos seguintes ela explodiu em popularidade. Era como se fosse uma minirreprodução das grandes vedetes da Praça Tiradentes. Exímia sapateadora, pode-se dizer que foi a primeira criança prodígio na cena teatral brasileira.

Com o fim das apresentações de É Batatal!, o Recreio lançou O Palhaço o Que é?, e logo depois Mamãe eu Quero e Rumo ao Catete; Isa estava nestes elencos, repetindo o êxito.

A Menina de Ouro foi uma revista escrita especialmente para ela. Estreou no Recreio, em 1937, escrita por Freire Jr. e J. Cabral. A produção apresentava-a como a menor vedete dos palcos brasileiros e, com certeza, dos teatros do mundo. A peça contava a história da americana Shirley Temple que decide tirar umas férias no sul da Califórnia. Para despistar os fãs e a imprensa, forja uma visita ao Brasil, contratando uma sósia brasileira que, se passando pela atriz, comparece a todos os eventos, atuando em cinema e teatro, enganando a todos. Mas a farsa dura pouco tempo: é descoberta e levada a julgamento. Na hora do veredicto, o clímax da peça, Isa tinha uma grande cena dramática, que emocionava todas as noites.

Entre 1937 e 1941, a nossa Shirley Temple reinou absoluta na PraçaTiradentes. Seu sucesso era enorme. Havia uma mutidão se amassando para ver a estrelinha.

Em 1939, depois de excursionar pelo País, Isa perdeu a maior oportunidade de sua vida: uma proposta para filmar em Hollywood, ao lado da própria Shirley Temple, feita por dois representantes da MGM na América Latina. O pai Benito recusou, pois tinha acabado de renovar com a Cia. Manoel Pinto.

Em 1941, Isa tentou interromper sua carreira para estudar, mas voltou para ajudar as finanças dos pais que dependiam dela. Ela havia crescido no palco. Em 1950 casou-se com o ator Carlos Mello, pai de seu único fi lho, Carlos Alberto.Tornou-se uma atriz versátil que havia passado com desenvoltura do teatro de revista para a comédia.

Em 1953, aos 26 anos, Isa retornou à revista em Mulheres de Todo o Mundo, no Teatro Carlos Gomes, ao lado da amiga desde os tempos do Recreio, Dercy Gonçalves. A exmenina-prodígio e revelação na comédia, pela primeira vez, veste maiô e bota as pernas de fora. O público e a crítica adoraram. Com Dercy Gonçalves ainda atuaria em Bomba da Paz, no João Caetano. Agora como vedete passou por muitas companhias.

Isa e Carlos Melo - 1960
Em 1955, foi elevada ao estrelato como vedete na temporada paulista com Colé, noTeatro Alumínio. Encabeçou o elenco de Gostei Demais... e Gente Bem & Champanhota, onde substitui Nélia Paula. Aproveitou a estada em São Paulo para filmar seu primeiro longa-metragem, Eva no Brasil.

Estrelou outras revistas como Te Futuco... num Futuca (1959) e Rio, Amor e Fantasia (1960). Sua especialidade eram os números de samba e as cenas cômicas. Isa Rodrigues, com Consuelo Leandro e Sonia Mamed, sabia fazer a caricata bonita, engraçada e sensual, ao mesmo tempo.

Em 1962, Isa era a artista mais bem paga da Tv Excelsior. Ao lado de outros egressos do teatro de revista, participou dos mais célebres programas humorísticos Noites Cariocas, O Riso é o Limite, Vovô Deville e Times Square.

Nos anos 1970, participava dos programas do Chico Anysio e dos Trapalhões da Rede Globo. Sua despedida dos palcos acontece em 1985, com a peça Viva a Nova República encenado no Copacabana Palace, ao lado de Íris Bruzzi e Milton Moraes.

Nos anos 1990, com a morte do marido, Isa mudou-se, por vontade própria, para o Retiro dos Artistas, onde vive até hoje. Aos 82 anos de vida e 75 de carreira, se considera uma mulher feliz.

Fonte: As Grandes Vedetes do Brasil - de Neyde Veneziano.