domingo, 5 de dezembro de 2010

Abigail Maia


Três grandes nomes do rádio, na mesma foto: Rodolfo Mayer, Abigail Maia e Floriano Faissal. Abigail nasceu no século retrasado, ou seja, em 16 de setembro de 1887, à  Rua do Senado, número 7. Aos quinze anos de idade já estava no palco substituindo uma faltosa atriz na companhia teatral da qual sua mãe, Balbina Maia, integrava o elenco.

Sua história é longa e linda. Foi casada com Raul Roulien, primeiro ator brasileiro a ser conhecido em Hollywood, e depois com Oduvaldo Viana, dramaturgo que iria emprestar sua inteligência a serviço da cultura de nosso país, escrevendo novelas que até os dias de hoje são encenadas em diversos canais de televisão.

Abigail Maia, atriz, cantora e bailarina, nasceu em Porto Alegre, RS, em 17/10/1887 e faleceu no Rio de Janeiro RJ, em 20/12/1981. Estreou no teatro aos 15 anos de idade, na peça Fada Coral. Trabalhou em inúmeras companhias de comédias e revistas antes de criar sua própria empresa, em parceria com Oduvaldo Vianna.

Em 1921, agregando-se à companhia Viriato Correa e Nicola Viggiani, deu-se a temporada conhecida historicamente como "Movimento Trianon".

Com seu trabalho ligado a um dos mais conceituados comediógrafos do período, valorizou a dramaturgia brasileira e ensejou algumas experimentações renovadoras. Nos anos 40 ingressou no elenco de rádio-atores da Radio Nacional.

Xisto Bahia

Xisto Bahia
Xisto Bahia (Xisto de Paula Bahia), compositor, cantor e ator, nasceu em Salvador (BA), em 06/08/1841, e faleceu em Caxambu (MG), em 30/10/1894. O pai, o major Francisco de Paula Bahia, casado com Teresa de Jesus Maria do Sacramento, recebeu como prêmio por sua participação nas campanhas da Cisplatina e Independência a administração da fortaleza de Santo Antônio de Além do Carmo, onde o filho nasceu e iniciou sua carreira musical, como comediante amador e seresteiro. Aos 17 anos já cantava suas primeiras modinhas.

Escreveu e representou comédias no grupo Regeneração Dramática, do qual era presidente o futuro visconde do Rio Branco, levadas à cena no teatro da Rua São José de Cima. Com a morte do pai, em 1858, tentou, sem conseguir, trabalhar no comércio, decidindo-se então pela carreira teatral.

Em 1859 apresentou-se como corista (barítono) da Companhia Lírica Clemente Mugnai, no Teatro São João, de Salvador. Transferiu-se depois para a companhia de seu cunhado, o ator Antônio Araújo, com a qual viajou pelas principais cidades da província.

Em 1861 tocava e cantava chulas e lundus de sua autoria na companhia organizada peio comendador Constantino do Amaral Tavares, na época diretor do Teatro São João. Em 1864 foi contratado pelo empresário Couto Rocha, excursionando durante dez anos pelo Norte do país.

No Ceará, em 1866, atravessou uma crise de depressão, por considerar sua carreira fracassada, o que o levava a entrar em cena sem saber seu papel nas comédias. Recuperou-se, entretanto, no Maranhão: atendendo aos conselhos do crítico Joaquim Serra, passou a estudar sob a direção de Joaquim Augusto. Os resultados não tardaram. Logo depois, voltou a se apresentar com sucesso no Ceará, retornando consagrado à Bahia em 1873. A Companhia de Mágicas de Lopes Cardoso, na qual ingressou, montou então a comédia de sua autoria Duas páginas de um livro, impressa em 1872 no Maranhão, de conteúdo abolicionista e republicano.

Em 1875 estreou no Rio de Janeiro, no Teatro Ginásio, na Companhia de Vicente Pinto de Oliveira. Essa atuação representou grande salto na sua carreira, surgindo daí o convite para atuar em outras comédias, gênero para o qual sua contribuição foi marcante. Corriam paralelamente suas carreiras de comediante, de compositor e de intérprete. Tanto a modinha como o lundu eram grandes atrações da época: o sentimentalismo da primeira como a irreverência da segunda eram admirados nos salões. No Rio de Janeiro, surgiu como concorrente de Laurindo Rabelo, que fazia grande sucesso com seus versos maliciosos e satíricos, utilizando a mesma linguagem chistosa. O publico dividiu-se entre um e outro, e essa competição veio a influenciar o teatro de costumes, que passou a adotar a gíria e a linguagem popular de sentido dúbio.

Em 1875 trabalhou na peça Uma véspera de Reis, de Artur Azevedo, que conseguira a aprovação de Rui Barbosa, então diretor do Conservatório Dramático de Salvador, para montá-la. Representou o papel do tabaréu Bermudes com tal imaginação, que o autor da peça, em artigo publicado em O País, de 7 de novembro de 1894, considerou-o como seu parceiro. Apresentada pela primeira vez no Teatro São João, essa peça de Artur Azevedo marcou o sucesso definitivo do ator.

Em 1878, no drama As duas órfãs, inaugurou o Teatro da Paz, de Belém (PA), e no ano seguinte voltou a exibir-se na Bahia, pela última vez, com Pontes de Oliveira, indo em seguida para o Rio de Janeiro. Aí passou a integrar o conjunto de Furtado Coelho, encabeçando o elenco de Jacinto Heller.
Em 1880 recebeu os aplausos de Pedro II, pelo seu desempenho na peça comemorativa da batalha do Riachuelo, Os perigos do coronel. Atuou em teatros de São Paulo e Minas Gerais, sempre com sucesso. Em 1887 passou a dirigir o Teatro Lucinda, do Rio de Janeiro, onde montou cerca de cinco revistas e mágicas.

Em 1891 afastou-se do palco, obtendo do então presidente do Estado do Rio de Janeiro, Francisco Portela, um lugar de amanuense na Penitenciária de Niterói, que ocupou até 1892. Voltou à cena pela última vez no Teatro Apolo (Rio de Janeiro) na Companhia Garrido, com a mágica O filho do averno, de Eduardo Garrido. Pelo sucesso alcançado com a peça, Artur Azevedo escreveu um perfil do artista, publicado no semanário Álbum.

Em 1892 recebeu convite do empresário português Sousa Bastos para uma temporada no Teatro das Novidades, de Lisboa, Portugal, a qual não chegou a se realizar devido à revolta da Armada, ocorrida em setembro daquele ano.

Em 1893, já doente, retirou-se para Caxambu, onde morreu em 1894, deixando viúva a atriz portuguesa Maria Vitorina de Lacerda Bahia e quatro filhos, Augusto, Maria, Teresa e Manuela. Sem qualquer formação musical, notabilizou-se por seu talento espontâneo, instintivo. Sua produção, embora pequena, é de excelente qualidade, valorizando-se por seu estilo ao violão e sua bela voz de barítono.

Ficaram célebres as interpretações de algumas de suas obras, como a modinha Quis debalde varrer-te da memória, e o famoso lundu Isto é bom, com o qual a Casa Edison iniciou em 1902 suas gravações de música popular brasileira. O disco, com a marca Zon-o-phone e o n° 10.001, traz a interpretação do cantor Bahiano.

Último ato

"Está na terra, na terra que ele tanto ama, o simpático e inteligente ator Xisto Bahia. Depois de uma longa ausência, ausência que lhe deu ensejo de mostrar ao Sul um talento superior, que se criou no Norte, e que lá viu glorificar-se; depois de receber as ovações de um público ilustrado, eis que aporta às nossas plagas o verdadeiro intérprete da arte dramática, que encontra em cada paraense um amigo, em cada cidadão um apologista do talento, do merecimento real. Um aperto de mão, Xisto Bahia! Depois do abraço fraternal, cumprimos um dever apresentando o filho da arte ao público paraense".

Como mostra a nota publicada em março de 1884 no Diário de Notícias, em Belém, se elogios pudessem ser transformados automaticamente em dinheiro, os bolsos de Xisto de Paula Bahia estariam cheios de notas gordas. Aclamado pelo público e pela crítica, o problema de Xisto era justamente a falta de uma remuneração justa, pelo menos comparável à importância que já havia alcançado no teatro brasileiro.

Nos jornais e revistas, ele era aclamado como "o mais brasileiro de todos os atores", como escreveu Arthur Azevedo na publicação Álbum. Em casa, ele era o marido da atriz Maria Vitorina e o pai de cinco filhos: Augusto, Maria, Augusta, Thereza e Manuela. Como todo pai que se prezava, queria dar uma vida digna à família. Era exatamente isso que o atormentava.

"Consumido, torturado por não poder assegurar aos filhos e à esposa o conforto da vida e um futuro independente, foi salteado sempre pelas provações da pobreza", diz o sobrinho de Xisto, o jornalista Torquato Bahia, num texto publicado no Anuário de baianos ilustres, de 1910. Luiz Américo Lisboa Júnior explica que, mesmo com todo o reconhecimento, Xisto sentia-se deprimido por não conquistar independência financeira. "Não tinha outra alternativa a não ser representar e cantar suas modinhas para sobreviver. Por outro lado, decepcionava-se com o ambiente que lhe dera fama, incomodava-se com a falta de ética e o aspecto meramente mercantil nos bastidores dos teatros entre agentes e organizadores de temporadas", explica.

Américo Lisboa ressalta que, apesar do momento difícil, Xisto continua a atuar com sucesso e, em 1887, recebe o convite da empresa Dias Braga para dirigir o Teatro Lucinda, no Rio de Janeiro, na função de ator e administrador. "Sob sua direção, o Teatro Lucinda passa a ser o primeiro do Rio de Janeiro a ter iluminação elétrica, o que foi um feito notável para a época", revela o pesquisador.

Desilusão

Mas a desilusão de Xisto com a profissão parecia estar além do sucesso que alcançava com suas peças. Por isso, afasta-se do palco em 1891, quando obtém um emprego do então presidente do estado do Rio de Janeiro. Um dos maiores artistas do país abandonava o teatro para se tornar escrevente da penitenciária de Niterói. A mudança é sintomática. Com a habilidade de disfarçar a própria tristeza, como saber a realidade que o ator enfrentava no cotidiano para tomar essa decisão?

Mas, assim como passou pouco tempo atuando no comércio durante a adolescência, o próprio destino se encarregaria de afastar Xisto do novo emprego. Um ano depois, em 1892, com a deposição do presidente, ele foi demitido. Voltou à cena, e apesar do período afastado, reapareceu com o mesmo sucesso de antes no Teatro Apolo, ao lado das atrizes baianas Isabel Porto e Clélia Araújo. Em 1893, uma nova possibilidade poderia ter mudado o rumo da vida de Xisto. Ele foi convidado pelo empresário português Souza Bastos para interpretar seus personagens no Teatro das Novidades, em Lisboa. Mas a Revolução da Armada, desencadeada em 6 de setembro desse mesmo ano, frustrou a excursão.

Toda essa série de acontecimentos nos leva de volta ao ano de 1887. Com a caneta à mão e a carta por responder, Xisto não escuta mais os aplausos. Pensa nos filhos e na mulher, e volta a redigir a carta ao amigo Tomaz Antônio Espiúca. "Tu saíste quando se manifestavam os primeiros sintomas da decomposição geral que lavrava no teatro desse espantalho chamado império do Brasil. Eu, porém, fiquei e fui preso do contágio. Fiquei e hoje, para mim, o hábito constituiu-se lei, que jamais poderei derrogar, senão quiser arriscar-me a sucumbir na luta. Queres voltar? Queres comer novo pão, ainda mais amargo e duro do que o que já comeste? Ah! Não venhas, eu t´o peço. Como teu amigo velho e prático nestas coisas teatrais, faço a mais descarnada e franca oposição ao teu regresso".

Esta carta é um dos poucos momentos em que Xisto despe-se de todos os seus papéis, tira o riso da face, mostra a dor e a desilusão que guardava dentro de si. É esse Xisto que parte com a família, em 1894, para a cidade mineira de Caxambu, em busca de tratamento para uma doença até hoje não explicada. Segundo Torquato Bahia, o mal teria sido conseqüência de "padecimentos antigos". Caxambu, que fica no sul do estado e tem clima de montanha, é considerado o maior complexo hidromineral do mundo. A água de suas 12 fontes é considerada miraculosa e possui propriedades que teriam poderes curativos sobre problemas digestivos, hepáticos, de formação dos ossos e de pele, além da anemia.

Em 1868, foi lá que a princesa Isabel se curou de uma suposta infertilidade. Mas nem as águas de Caxambu, nem os saberes do médico baiano Paulo Fonseca, que teria cuidado de Xisto sem cobrar nada, apenas pela amizade, foram suficientes para fazê-lo sobreviver. No dia 30 de outubro de 1894, aos 53 anos, um dos maiores artistas brasileiros do século XIX se despedia da vida. Arthur Azevedo, o dramaturgo e amigo que, assim como Xisto, lutara pela abolição da escravatura e pela República, escreveu uma carta em sua homenagem. Anos depois, o sobrinho de Xisto afirmaria: "Entre o seu berço, que é a pobreza cheia de esperanças, e o seu túmulo, que é a pobreza cheia de lúgubres tristezas, está a sua existência inteira, que é a pobreza crucificada pela dor e mascarada por um riso eterno".

Difícil mesmo é saber onde está o túmulo ao qual Torquato Bahia se refere. Os livros que falam, em algumas poucas linhas ou páginas, sobre a vida de Xisto, não fazem qualquer referência sobre onde estão os restos mortais do artista baiano. Na verdade, muito pouco tem se falado sobre Xisto e, com a falta de referências a ele, se perde uma parte importante da história da música e do teatro baiano e brasileiro. "Xisto, até hoje, ainda não recebeu um estudo suficientemente profundo para avaliá-lo e explicá-lo", opina o professor de etnomusicologia da Ufba, Manuel Veiga.

A Fundação Cultural do Estado publicou, em 2003, na Revista da Bahia, um artigo especial em homenagem a Xisto Bahia. "O que Chiquinha Gonzaga fez com a música de carnaval, levando-a para os salões da corte, ele faz na Bahia e em Belém", compara o co-editor da publicação e produtor cultural Sérgio Sobreira.

Referências esparsas

O artigo - assinado por Armindo Bião, Cristiane Ferreira, Ednei Alessandro e Carlos Ribas - reúne indicações de fontes e referências relacionadas ao artista baiano. Entre elas, uma rua que leva o nome do artista, no bairro do Engenho Velho da Federação. "Os monumentos que traduzem uma determinada ideologia estão em pontos privilegiados. Temos uma prática, aqui em Salvador, de considerarmos herói só aquele que parte em batalha. Não temos aqui um teatro municipal com o nome de Xisto Bahia", diz Jaime Sodré.

O cineasta e professor de história Joel de Almeida pensa em fazer um filme sobre a vida de Xisto há cerca de 15 anos. A idéia inicial era produzir um documentário, mas devido à escassez de informação audiovisual sobre o artista, ele fez, há quatro anos, o projeto de um curta-metragem de ficção, aliando a ele fatos verídicos da vida do ator. "Xisto era um artista que reunia todos os elementos da cultura brasileira. Ele antecipou, de certo modo, a Semana de Arte Moderna. Se ela veio despertar a sociedade brasileira, ele foi isso no século XIX, um pioneiro. Ele tinha uma comunicação visceral com o povo", analisa. O projeto do filme está concorrendo a um edital do governo. Já o livro de Luiz Américo Lisboa Junior, Compositores e intérpretes baianos - de Xisto Bahia a Dorival Caymmi, está pronto, à espera de edição.

O professor da Escola de Teatro e diretor da Funceb, Armindo Bião, já coordenou um grupo de pesquisas na Ufba que estudava, entre outras questões, a obra de Xisto Bahia. Os alunos produziram, em 2001, o espetáculo Isto é bom, em homenagem ao artista. Parte das composições de Xisto pode ser encontrada no site do Instituto Moreira Sales, como informam o professor Manuel Veiga e o pesquisador Luciano Carôso.

Em meio a essas iniciativas, ao empenho de profissionais da música, do teatro, da história e do cinema, fica ainda a impressão de que muito falta a ser dito sobre Xisto Bahia. O reconhecimento à sua obra e trajetória pode trazer informações valiosas que ajudem a entender melhor o panorama da música popular e do teatro brasileiros hoje. Na opinião de Jaime Sodré, parte desse esquecimento tem raízes num dos problemas contra os quais o próprio Xisto Bahia lutava: a discriminação. "Esse esquecimento é doloroso. É importante saber o fim dessas personalidades, quem são seus descendentes. O que faltou para Xisto entrar na história da música brasileira? Aí tem o fator racial. Existe uma historiografia nacional que produz essas personalidades que, às vezes, não têm a cara do Brasil mestiço".

Uma das mais profundas descrições sobre a personalidade difícil de ser decifrada de Xisto Bahia foi feita pelo sobrinho dele, Torquato, filho de seu cunhado, o ator Antônio da Silva Araújo. "Os que o encontraram em vida viram nele um espírito jovial e alegre; uma alma cheia de abnegação e amor; um boêmio e um filantropo, capaz de passar a noite cantando ao luar, e de vender o relógio para matar a fome à primeira boca necessitada que lhe pedisse pão. Mas, tendo sempre o cuidado de não deixar seu rosto, em que acusava uma expressão de bem-estar, trair-lhe as dores íntimas, denunciar os temores de sua alma".

Adriana Jacob (Correio da Bahia) - 25 de julho de 2005

Aracy Cortes

Mulher muito à frente de seu tempo, Aracy Cortes desde sempre desafiava preconceitos, como o de posar praticamente nua vestida apenas com o violão (1924), interpretando um dos seus maiores sucessos, a canção Gemer num violão.
Aracy Cortes (Zilda de Carvalho Espíndola), cantora e atriz, nasceu no Rio de Janeiro em 31/03/1904 e faleceu na mesma cidade em 08/01/1985. Filha do chorão Carlos Espíndola, até os 12 anos morou no bairro do Catumbi, onde foi vizinha de Pixinguinha. Após alguns anos vivendo com a madrinha, deixou a família aos 17 anos, passando a atuar em circos.

Cantava e dançava maxixes no Democrata Circo, da Praça da Bandeira, no Rio de Janeiro, quando foi descoberta por Luiz Peixoto e levada para fazer teatro de revista. Com o pseudônimo de Araci Cortes, que lhe foi dado por Mário Magalhães, crítico teatral do jornal A Noite, fez grande sucesso nas décadas de 1920 e 1930.

Aracy Cortes - 1924
Foi a responsável pelo lançamento de diversos compositores em revistas da Praça Tiradentes, como Ary Barroso, Zé da Zilda, Benedito Lacerda e outros. Em 1923 já era intérprete consagrada, com o sucesso do samba Ai, madama, incluído na revista Que pedaço, de Sena Pinto, com música de Paulino Sacramento, no Teatro Recreio.

Em 1925 estreou em disco, com três gravações na Odeon, Serenata de Toselli, A casinha (motivo mexicano com versão de Luiz Peixoto, mais conhecida como A casinha da colina e Petropolitana (sem autor no disco).

Em 1928 atuou na revista Miss Brasil, de Luiz Peixoto e Marques Porto, cantando o samba-canção Iaiá (Linda flor), com música de Henrique Vogeler, e uma terceira letra, Iaiá, ioiô, já então de Luiz Peixoto. A peça foi sucesso em dezembro de 1928 e janeiro de 1929, e sua interpretação desta música, gravada na Parlophon, fez sucesso no Carnaval de 1929.

Ainda em 1928, na peça Microlândia, de Luiz Peixoto, Marques Porto e Afonso de Carvalho, com música de Serafim Rocha e Sinhô, fez com grande êxito o lançamento do samba amaxixado Jura (Sinhô), que teve duas gravações simultâneas, por ela e por Mário Reis. Na revista Laranja da China, de Olegário Mariano, com música de Júlio Cristóbal, Pedro Sá Pereira e Ary Barroso, encenada no Teatro Recreio, interpretou o samba Vamos deixar de intimidade, responsável pelo lançamento de Ary Barroso como compositor.

Em 1932, na revista Angu de caroço, de Carlos Bittencourt, Luís Iglésias e Jardel Jércolis, estreada no Teatro Carlos Gomes, apresentou-se com grande êxito, ao lado de Sílvio Caldas, interpretando o samba Mulato bamba (Noel Rosa). Em 1933 o empresário Jardel Jércolis realizou a primeira excursão de uma companhia brasileira de revistas à Europa, sendo ela a estrela.

De 1929 a 1935 lançou 32 discos, a maioria pela Odeon, registrando sua melhor fase como intérprete. Em 1930 lançou, na revista Diz isso cantando, a música No morro (Ary Barroso e Luís Iglésias), que oito anos mais tarde seria reescrita e se tornaria o sucesso Boneca de piche. Em 1939, novamente no Teatro Recreio, atuou na revista Entra na faixa, de Luís Iglésias e Ary Barroso, na qual lançou o samba-exaltação Aquarela do Brasil.

Foi em 1953 que gravou, pela Odeon, seus últimos três discos de 78 rpm; em seguida, afastou-se do meio artístico. Atuaria no teatro de revistas até 1961, sendo a última É por aqui Sinhô, no Teatro Zaqui Jorge, no bairro carioca de Madureira.

Em 1965 o poeta e compositor Hermínio Belo de Carvalho promoveu sua volta ao palco no show Rosa de ouro, no Teatro Jovem, do Rio de Janeiro, no qual se apresentou ao lado de Paulinho da Viola e Clementina de Jesus, entre outros. Deste espetáculo resultaram dois LPs lançados pela Odeon, Rosa de ouro 1 (1965) e Rosa de ouro 2 (1967), nos quais participou em várias faixas.

Em 1976 deu recitais no Teatro Glauce Rocha, e, em 1978, no Teatro Dulcina. Em 1984, em comemoração aos seus 80 anos, foi lançado o LP Araci Cortes, uma coletânea com depoimentos da cantora, e o livro Araci Cortes, de autoria de Roberto Ruiz, ambos pela Funarte. 

Entre os seus grandes sucessos como cantora, estão ainda Quem me compreende (Benedito Vivas e Ary Barroso), Tem francesa no morro, maxixe que marcou a estréia de Assis Valente como compositor, e Os quindins de Iaiá (Pedro de Sá Pereira e Cardoso de Meneses).

Virgínia Lane

Virgínia Lane, a vedete preferida de Getúlio Vargas, nos palcos do Cassino da Urca.


Virgínia Lane (Virgínia Giacone), cantora e vedete, nasceu em 28/2/1920 no Rio de Janeiro, RJ. Foi interna do Colégio Regina Coeli, dos seis aos 14 anos. Estudou, em seguida, no Instituto Lafayette (famoso colégio situado no bairro carioca de Botafogo), chegando depois a cursar o primeiro ano de Direito. Estudou um período com Maria Olenewa na Escola de Bailados do Teatro Municipal do Rio de Janeiro.

Em 1943, iniciou sua carreira, trabalhando como corista do Cassino da Urca. Por intermédio do maestro Vicente Paiva, tornou-se "crooner" de sua orquestra e, além de atuar no Cassino, passou a se apresentar na Rádio Mayrink Veiga.

Em 1945, depois de apresentações na Rádio Splendid e na boate Tabaris, de Buenos Aires, fixou residência na capital argentina por três anos. Em 1946 lançou pela Continental, seu primeiro disco interpretando a marcha Maria Rosa, de Oscar Bellandi e Dias da Cruz e o samba Amei demais, de Ciro de Souza e J. M. da Silva.

Quando voltou ao Brasil, em 1948, atuou como vedete na revista Um milhão de mulheres, de Chianca de Garcia, encenada no Teatro Carlos Gomes, no Rio de Janeiro. A revista rendeu-lhe muito sucesso, o que lhe possibilitou um contrato com a companhia de Walter Pinto, no qual trabalhou por quatro anos em espetáculos no Teatro Recreio.

Em 1951, lançou seu grande sucesso, a marchinha Sassaricando, de Luís Antônio, Zé Mário, pseudônimo de Jota Júnior e Oldemar Magalhães, cantada por ela na revista Eu quero sassaricá, de Luís Iglesias e Freire Júnior, e gravada pela Todamérica em novembro de 1951. A música foi feita de encomenda para a revista Jabaculê de penacho, produzida por Walter Pinto que, adorando o tema, resolveu trocar o nome da revista. O sucesso foi tanto, que a música acabou criando a expressão maliciosa "sassaricar".

A partir de 1952, trabalhou no Teatro Carlos Gomes. No mesmo ano, gravou as marchas Santo Antônio casamenteiro, de Antônio Almeida e Alberto Ribeiro e Balão, de Luiz Antônio. Foi eleita Rainha das Atrizes, pela Casa dos Artistas. Destacou-se em programas da TV Tupi (Espetáculos Tonelux) na década de 1950.

Em 1953, fez sucesso com a marcha Zé Corneteiro, de Lalá Araújo. Em 1954, gravou com sucesso a Marcha do fiu-fiu, que ela assinou com Nelson Castro e Marcha da pipoca, de Luiz Bandeira e Arsênio de Carvalho, de sentido malicioso ou de duplo sentido.

Em 1955 lançou o maxixe No balaio de sinhá, de Arsênio de Carvalho; o samba Portão da casa do Juca, de Rubens Silva e Loé Moulin e Chorinho gostoso, de sua autoria. Em 1956, gravou os cha-cha-chas Aprenda o cha-cha-cha, de C. Garcia e Hello e Um beijinho por telefone, de M. Perdomo, ambos com versão de Alberto Ribeiro.

Em 1957, gravou as marchas É baba de quiabo, de sua parceria com Arsênio de Carvalho e Madame sapeca, de José Roberto e José Batista. Em 1958, gravou Lanterninhas multicores, marcha de sua autoria; Santo Antônio vai me abençoar, baião de Nelson Castro e José Batista e Que palhaço, marcha de sua parceria com William Duba.

Gravou 24 discos em 78 rpm, um pela Continental e os outros pela Todamérica, principalmente com marchinhas de temas maliciosos ou humorísticos, apesar de ter gravado sambas também.
Em 1960, gravou dois discos pela etiqueta Carroussel, incluindo as marchas Meu América, campeão carioca de futebol daquele ano, de Nelson Castro e Marcha da vitória, de Hélio Nascimento, Mirabeau e J. Gonçalves.

No início do ano 2000, continuava a se apresentar em bailes populares de carnaval, na Cinelândia no Rio de Janeiro, com grande agrado do público. Foi uma das artistas de maior prestígio no governo de Getúlio Vargas que, além de ser seu fã, conta-se, chegou a ter um romance com ela.

Dercy Gonçalves


A imagem de Dercy Gonçalves, já uma senhora, mas ainda muito bonita em seu maiô rebordado de strass, as imensas plumas coloridas de avestruz na cabeça e na cauda, liderando — vedete absoluta, como mandava o figurino — o elenco reluzente da Companhia Dercy Gonçalves, era a da grande estrela, em seu elemento, o palco.

Meados dos anos 50, o teatro era o desaparecido Santana, na rua 24 de Maio, em São Paulo. Só ver Dercy encerrar o espetáculo cantando o samba Até amanhã de Noel Rosa, secundada por atores, atrizes, lindas mulheres, todos entregando-se ao ritmo brasileiro que, então, dominava por completo o teatro de revista, valia o ingresso.

Boa cantora, bela figura, desenvolta e com jeito brasileiro em cena, logo se tornou caricata e intérprete de sambas, desde que chamou a atenção da crítica, na revista Rumo A Berlim, de Freire Júnior e Walter Pinto, em 1942, no Teatro Recreio.

Cresceu tanto que, em 1944, já imitava ninguém menos que Araci Cortes, a rainha da revista, em Barca da Cantareira, de Luiz Peixoto e Custódio Mesquita. Cantando samba, naturalmente. Como sempre o faria, no decorrer dos 30 anos em que foi das vedetes mais aplaudidas do país.

Filha de alfaiate e neta de coveiro, Dolores Gonçalves Costa (nascida a 23 de junho de 1907), ficou sem a mãe muito cedo. A lavadeira Margarida descobriu que o marido tinha uma amante. Ofendida e humilhada arrumou as trouxas e foi para o Rio de Janeiro, largando os sete filhos para que o infiel tomasse conta. Vitória, a amante de seu Manoel, passou a freqüentar a casa. "Ficavam namorando na sala, de mãos dadas. Mas papai nunca assumiu o romance. A certa altura da noite, ela ia embora."

Dercy, bilheteira de cinema, escandalizava a cidade ao pintar o rosto como as atrizes dos filmes mudos. Dançava para alegrar os hóspedes do Hotel dos Viajantes em troca de um prato de comida. Na missa, de vestido de chita, cantava de pé num banquinho abraçada à imagem de Jesus. Aí se apaixonou por Luís Pontes, um rapaz de bons modos. "Foi a primeira pessoa que me deu carinho. Mas a família dele proibiu o namoro." Quando encontrou a companhia de teatro mambembe, Dercy tinha todas as razões do mundo para fugir de casa.

Em Conceição de Macabu (RJ), passou a ser assediada pelo cantor Eugenio Pascoal. "Não sabia que eu era moça, não tinha virado mulher." Só tomou coragem para se entregar quando a turnê chegou a Leopoldina (RJ), duas semanas depois. Gentil, Pascoal saiu do quarto para que ela colocasse a camisola feita de saco de arroz. Tinha até inscrito no peito: "Indústria Brasileira de Arroz Agulhinha, arroz de primeira." Os carinhos preliminares não a incomodaram, mas quando ele a penetrou Dercy deu um pulo. Viu que estava sangrando e imaginou-se ferida. "Sentei o pé nele e saí porta afora. Socorro! Esse homem me furou! Imaginei que tinha enfiado um facão e rasgado minhas tripas."

Nunca mais houve clima para romance, mas eles se tornaram grandes amigos, até Pascoal morrer, tuberculoso. Pior: contagiou Dercy. Foi quando ela encontrou Ademar Martins, exportador de café mineiro, casado, muito católico. Levou-a para um sanatório perto de Juiz de Fora, aparecia uma vez por semana para vê-la e pagar a conta. Depois, instalou Dercy num hotel na praça Tiradentes, no Rio. Só então transaram pela primeira vez. Nasceu Dercimar, a única filha de Dercy. "Teve aulas de boas maneiras, aprendeu francês e casou com um quatrocentão da Tijuca. É uma dama na expressão da palavra", deleita-se Dercy.

Estrela das comédias da praça Tiradentes e das revistas musicais do Cassino da Urca, fez do palavrão cavalo de batalha. "Sou um retrato do País, que é a própria escrotidão", dispara. Ao imitar os trejeitos de Carmen Miranda, coçava o corpo todo. Ironizava o caminhar manco de Orlando Silva e fazia troça do vozeirão de Vicente Celestino.

Fez 36 filmes e, a partir de 1957, entrou também na televisão. Nos anos 60, Consultório sentimental, na TV Globo, uma espécie de talk-show primitivo ela esculhambava o convidado, chegou a ter 90% da audiência dos aparelhos ligados.

"Sou uma escola de irreverência." Dercy chega aos 92 anos sozinha. Casou na década de 40 com o jornalista Danilo Bastos, dez anos mais jovem. "Não era amor, e sim troca." Teve um caso tórrido com o acrobata Vico Tadei, mas amor verdadeiro, de chorar, só o Luís Pontes, o rapaz de bons modos de Madalena. "Escrevia cartas e as lágrimas caíam no papel. Mas o tempo passou e eu esqueci Luís Pontes. Ai de nós se não houvesse o esquecimento."

Fontes: Isto É - 0 Brasileiro do Século; História do Samba - Editora Globo.

Artur Azevedo

O contista, poeta, teatrólogo e jornalista Artur Azevedo (Artur Nabantino Gonçalves de Azevedo) nascido em São Luís (MA), em sete de julho de 1855, é considerado o pai do teatro musicado brasileiro. Filho de David Gonçalves de Azevedo e Emília Amália Pinto de Magalhães, aos oito anos demonstrou gosto para o teatro e fez adaptações de textos de autores como Joaquim Manuel de Macedo.

Muito cedo começou a trabalhar no comércio. Foi empregado na administração provincial e logo após foi demitido por publicar sátiras contra autoridades do governo. Ao mesmo tempo lançou as primeiras comédias nos teatros de São Luís (MA).

Antes de completar seus 20 anos foi para o Rio de Janeiro (1873) empregando-se no Ministério da Agricultura e também ensinando português no Colégio Pinheiro.

Mas foi no jornalismo que se desenvolveu em atividades que o projetaram como um dos maiores contistas e teatrólogos brasileiros. Fundou publicações literárias, como A Gazetinha, Vida Moderna e O Álbum. Colaborou em A Estação, ao lado de Machado de Assis, e no jornal Novidades, junto com Olavo Bilac, Coelho Neto, entre outros.

Nessa época escreveu as peças dramáticas como a opereta francesa La Filie de Madame Angot; fez a paródia A filha de Madame Angu (1876), que chamou as atenções gerais e criou as oportunidades para o começo de sua carreira teatral; O Liberato e A Família Salazar, que sofreu censura imperial e foi publicada mais tarde em volume, com o título de O escravocrata. Escreveu mais de quatro mil artigos sobre eventos artísticos, principalmente sobre teatro (figura ao lado: chamada para peça "O Bilontra": O Mequetrefe - Rio de Janeiro - 1885).

Suas operetas e revistas introduziram no Brasil o teatro musicado, sendo pioneira O Mandarim(1884), seguindo-se Cocota (1885) e O Bilontra (1886). Os textos críticos e bem-humorados sempre eram aplaudidos, mesmo pelos criticados. Um século depois, continuam a ser encenados, como A Capital Federal, escrita em 1897.

Em 1889, reuniu um volume de contos dedicado a Machado de Assis, seu companheiro na Secretaria da Viação. Em 1894, publicou o segundo livro de histórias curtas, Contos fora de moda, e mais dois volumes, Contos cariocas e Vida alheia. Morreu no Rio de Janeiro em 22 de outubro de 1908.