quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Cardoso de Menezes

Cardoso de Menezes
Cardoso de Menezes (Frederico Cardoso de Menezes e Souza), compositor e revistógrafo, nasceu no Rio de Janeiro em 31 de março de 1878, em uma casa na rua Bento Lisboa no bairro do Catete.

Filho de Antônio Frederico Cardoso de Menezes e Souza e Judith Ribas Cardoso de Menezes e Souza, foi criado no meio de intelectuais e artistas famosos da época, que se reuniam na casa de seus pais.

O pai foi músico, escritor, poeta e teatrólogo bastante popular no período entre 1875 e 1910; a mãe era também musicista, tendo sido colaboradora de Arthur Napoleão, famoso editor de partituras musicais. Seu avô paterno foi João Cardoso de Menezes e Souza, o Barão de Paranapiacaba (1827-1915), homem de grande erudição, autor de várias obras e traduções e que gozava de prestígio e influência junto a D. Pedro II.

Em 1900, Cardoso de Menezes casou-se com Amélia Juventina Ferreira, com quem teve quatro filhos; nenhum seguiu a carreira artística. Desde de 1895 foi funcionário público, passando pela Alfândega e se aposentando no Tesouro Nacional.

Cardoso de Menezes não quis se dividir entre música e teatro, como seu pai e, resolvendo se dedicar exclusivamente ao teatro, e especificamente ao teatro da Praça Tiradentes, pode conciliar as duas artes, trabalhando nos gêneros ligeiros musicados.

Assim nos relata Brício de Abreu: contou-me ele que, certa vez, ainda no curso preparatório, com 14 anos [1892] escreveu uma “mágica”. Em vez de estudar, estava escrevendo quando o pai [...] perguntou-lhe o que fazia [...] “Estou escrevendo uma “mágica”[...], o velho Cardoso de Menezes respondeu sorrindo para o filho : “Duvido que seja boa, e só irá à cena quando as galinhas tiverem dentes!”[...] Em 1905, [para] a sua primeira peça representada, “Comes e Bebes”, mandou convidar o pai, com um cartão onde dizia: “As galinhas criaram dentes, venha ver!” E desde então o pai se orgulhou do filho.(Abreu, 1963:248)

Antes de Comes e bebes Cardoso de Menezes havia escrito, em 1904, aos 26 anos, uma revista para ser encenada pelo grupo amador Clube Dramático de Ouro, de São Cristovão: São Cristovão por um óculo. Foi na ocasião desta apresentação que Cardoso de Menezes conheceu Chiquinha Gonzaga e Alvarenga Fonseca, que o incentivaram a continuar escrevendo. E foi o que fez, sozinho ou em parceria, o nosso revistógrafo, tornando-se um dos autores de revistas, burletas e operetas mais famosos do Rio.(Abreu, 1963:248)

Com a burleta Comes e bebes deu-se sua estréia profissional, que contou com intérpretes que se tornariam célebres, pouco tempo depois, no teatro ligeiro carioca. A estréia ocorreu justamente na Companhia do Teatro São José, em 4 de janeiro de 1912, com Alfredo Silva, Cinira Polônio, Júlia Martins, Pepa Delgado, Franklin de Almeida e outros. Vieram logo depois, ainda em 1912, a opereta Casei com titia, com música de Chiquinha Gonzaga, apresentada no Teatro São Pedro pela Companhia João de Deus e Zé Pereira com música de Francisco Nunes , também no São José. (Abreu, 1963:248)

Cardoso de Menezes, aliando-se primeiro à grande Chiquinha Gonzaga e logo após a Carlos Bittencourt, produziu revistas, burletas e operetas que ficaram como modelos do gênero. A revista, então chamada de “Carnaval”, teve nele o seu grande autor, “Gato, Baêta e Carapicú” foi dos maiores êxitos de sua época com o ator Alfredo Silva. Depois da fundação da Cia. Nacional de Revistas e Burletas por Paschoal Segreto, para o Teatro S. José, em 1913 [sic], não creio que algum autor tenha ultrapassado com êxito a dupla Carlos Bittencourt e Cardoso de Menezes. (Abreu, 1963: 249)

Cardoso de Menezes foi um dos raros autores a ter o privilégio de ver suas peças em cena por mais de cem representações consecutivas; o que era considerado, para os padrões da época, e do teatro ligeiro, um claro indicativo de qualidade. Segundo Gill (1944: 8) as peças de Cardoso de Menezes [constituíam] acontecimentos expressivos principalmente para os cofres das empresas teatrais [...] e como revistógrafo, descobriu o ovo de Colombo do teatro no Rio quando criou a sua primeira revista exclusivamente carnavalesca. Foi autor de muitas peças, e grande parte desse sucesso, devido certamente a sua “maestria” na escrita destes gêneros teatrais e a conseqüente boa acolhida do público, realizou com seu mais regular e igualmente bem sucedido colaborador, Carlos Bittencourt.

Faleceu em 30 de março de 1958, às vésperas de completar 80 anos, dos quais mais da metade foram dedicados ao teatro. Sua última peça foi ainda uma revista, Fogo no pandeiro, montada em 1950, pela Companhia Ferreira da Silva no Teatro João Caetano, tendo como intérpretes, entre outros, Dercy Gonçalves, Colé, Silva Filho e Walter D’Ávila.

Fonte: Frederico Antonio Cardoso Menezes - Uma Dinastia de músicos no Porto / Trecho da dissertação de mestrado de Maria Filomena Vilela Chiaradia, p.79-82.

Paschoal Carlos Magno

Paschoal Carlos Magno
Paschoal Carlos Magno (Rio de Janeiro RJ 13/01/1906 - idem 24/05/1980), teatrólogo, revistógrafo,  crítico e compositor, foi uma personalidade fundamental na dinamização e renovação da cena brasileira. Fundou o Teatro do Estudante do Brasil e o Teatro Duse.

Em 1926, faz uma experiência como galã em Abat-Jour, de Renato Viana. Em 1928, tem uma fugaz participação, como ator, no Teatro de Brinquedo, de Álvaro Moreyra; e escreve críticas para O Jornal. Em 1929, lidera ampla campanha de coleta de recursos para fundar a Casa do Estudante do Brasil. 

Em 1930 sua canção Pierrot recebe a melodia do compositor Joubert de Carvalho, para a abertura de sua peça Pierrot, prestes a estrear no Rio de Janeiro pela companhia de Jaime Costa, da qual Paschoal assume a direção artística. Além de romântica, a canção deveria explorar o timbre agudo de Jorge Fernandes, o cantor escolhido para interpretá-la. No mesmo ano, recebe da Academia Brasileira de Letras, ABL, um prêmio por esta peça.

Em 1937, funda o Teatro do Estudante do Brasil, TEB, inspirado nos teatros universitários europeus, com uma função pedagógica, de formação teatral, e outra artística, de introduzir no nosso teatro a função do diretor teatral, cargo para o qual convoca a atriz Itália Fausta, que assina o primeiro espetáculo do grupo, Romeu e Julieta, de William Shakespeare, em 1938.

Em 1946, Paschoal tem representada em Londres, com boas críticas, a sua peça Tomorow Will Be Different, montada em vários outros países europeus, e também no Brasil. No mesmo ano, assume a coluna de crítica do jornal Democracia e, no ano seguinte, a do Correio da Manhã, que assina até 1961, através da qual exerce forte influência sobre o panorama teatral. 

Em 1948, sob sua orientação geral, e com direção do alemão Hoffmann Harnisch, o TEB monta Hamlet, de William Shakespeare, que alcança enorme sucesso e prestígio, sobretudo por revelar, no papel-título, o singular talento do jovem Sérgio Cardoso, então com 22 anos, a quem Paschoal define, na sua coluna, como sendo desde já o maior ator do Brasil. Sob a repercussão desse êxito, e das viagens de Paschoal pelo Brasil afora, teatros de estudantes começam a ser criados em várias cidades. 

Em 1949, Paschoal preside o lançamento pelo TEB, de um Festival Shakespeare, no Rio de Janeiro, com Romeu e Julieta, Macbeth e Sonho de Uma Noite de Verão; e cria, junto com a cantora Alda Pereira Pinto, o Teatro Experimental de Ópera.

Em 1952, Paschoal leva o TEB para extensa turnê pelo norte, com peças de Sófocles, Eurípides, William Shakespeare, Gil Vicente, Henrik Ibsen, Martins Pena. No mesmo ano, dá início a uma outra iniciativa importante: o Teatro Duse, uma sala de aproximadamente 100 lugares e um palco mínimo, instalada no casarão de Paschoal, em Santa Tereza. Inaugurado em 1952, com João Sem Terra, de Hermilo Borba Filho, o Duse funciona, com ingresso gratuito, até 1956, revelando, entre outros, Aristóteles Soares, Francisco Pereira da Silva, Leo Vitor, Antônio Callado, Rachel de Queiroz, Paulo Moreira da Fonseca, Maria Inês Barros de Almeida, e conquistando um lugar de prestígio no panorama cultural do Rio de Janeiro. 

Nomeado responsável pelo setor cultural e universitário da Presidência da República por Juscelino Kubitschek, desloca-se permanentemente pelo país afora, garimpando jovens talentos e lutando pela criação ou dinamização de espaços onde eles possam dar vazão à sua ânsia de aprender e criar. Em 1958, organiza em Recife o primeiro Festival Nacional de Teatros de Estudantes, reunindo mais de 800 jovens e dando início a uma tradição que prosseguirá até o sexto festival.

Nomeado, em 1962, secretário geral do Conselho Nacional de Cultura, realiza a Caravana da Cultura, reunindo 256 jovens artistas que percorrem os Estados do Rio de Janeiro, Minas Gerais, Bahia, Sergipe e Alagoas, apresentando espetáculos de teatro, dança e música e realizando exposições de artes plásticas e distribuição de livros e discos. Uma iniciativa semelhante, a Barca de Cultura, que desce pelo Rio São Francisco de Pirapora a Juazeiro, é promovida por Paschoal já na década de 70. 

O golpe de 1964 o afasta dos centros do poder e prejudica a sua carreira diplomática. Sua última grande realização inicia-se em 1965, quando ele inaugura, no interior do Estado do Rio de Janeiro, a Aldeia de Arcozelo, da qual pretende fazer um local de repouso para artistas e intelectuais e um centro de treinamento para as diferentes áreas das artes. 

Mas a volumosa obra consome o resto da sua fortuna e o obriga a vender o seu casarão de Santa Tereza para pagar as dívidas. Ainda assim, o dinheiro revela-se insuficiente, e Paschoal ameaça publicamente tocar fogo na fazenda. Alguns auxílios, oficiais ou privados, chegam a ser liberados; mas até hoje a Aldeia de Arcozelo encontra-se fechada sob o domínio da Fundação Nacional de Artes Cênicas.

Fontes: Enciclopédia Itaú Cultural; A Canção no Tempo – Vol. 1 – Jairo Severiano e Zuza Homem de Mello – Editora 34.

Walter Pinto

Walter Pinto
Walter Pinto, produtor e autor de teatro de revista, nasceu mo Rio de Janeiro em 1913, e faleceu na mesma cidade, em 21 de abril de 1994. Produtor dos maiores espetáculos de teatro de revista brasileiro, é responsável pela reformulação do gênero, nos anos 40 e 50.

Walter formou-se em Contabilidade e Ciências Econômicas, mas acabou dedicando-se à Companhia de Teatro Pinto, fundada por seu pai, dirigindo-a depois da morte de seu irmão Álvaro, ainda na década de 40.

Dá início à Companhia Walter Pinto, que veio a se tornar a maior delas no teatro musicado, encenando Revistas e revelando uma geração de atores, músicos e compositores, dentre os quais se podem listar: Dercy Gonçalves, Carmem Miranda, Assis Valente, etc.

A Companhia Walter Pinto estréia com É Disso que Eu Gosto, de Miguel Orrico, Oscarito Brennier e Vicente Marchelli, 1940, título extraído da música que Carmem Miranda cantava, à frente do elenco, com Oscarito e Margot Louro.

Durante toda a década de 40, os espetáculos são quase que exclusivamente dirigidos por Otávio Rangel. O produtor tira a ênfase do autor e dos primeiros atores para valorizar a espetacularidade da cena: escadas, luzes, grandes coreografias, efeitos de maquinaria, coros numerosos e grande orquestra garantem o sucesso dos espetáculos que se sucedem. Contrata coristas argentinas, francesas e até russas que atuam principalmente nas partes musicais, para as quais mantém um grupo de bailarinas. Durante a guerra, ensaia quadros patrióticos.

Os títulos anunciam a jocosidade e mesmo a falta de história dos espetáculos: Assim... Até Eu, de Olavo de Barros e Saint-Clair Senna, Os Quindins de Yayá, de J. Maia e Walter Pinto, A Cabrocha Não É Sopa, de Freire Jr., todos de 1941; Passo de Ganso, de Freire Jr., de 1942; Rei Momo na Guerra, de Freire Jr. e Assis Valente, Comendo as Claras, de Paulo Orlando e Walter Pinto, de 1943; Tico-Tico no Fubá, de Alfredo Breda e Walter Pinto, Momo na Fila, de Geysa Bôscoli e Luiz Peixoto, de 1944; Bonde da Laite, de Geysa Bôscoli e Luiz Peixoto, Canta Brasil, de Luiz Peixoto, Geysa Bôscoli e Paulo Orlando, Rabo de Foguete, de Luiz Peixoto, Saint-Clair Senna e Walter Pinto, de 1945; Carnaval da Vitória, de Luiz Peixoto, Saint-Clair Senna e Walter Pinto, Não Sou de Briga, de Freire Jr. e Walter Pinto, Nem Te Ligo..., de Freire Jr. e Walter Pinto; Quê que Há com Teu Piru?, de Freire Jr., Saint-Clair Senna, Fernando Costa e Walter Pinto, 1946; Não Chacoalha!, de Freire Jr. e Walter Pinto, 1947; Tem Gato na Tuba, de Freire Jr. e Walter Pinto, 1948; Vamos pra Cabeça!, de Freire Jr. e Humberto Cunha; Está com Tudo e Não Está Prosa, de Freire Jr. e Walter Pinto, 1949. No elenco, Virginia Lane e Dercy Gonçalves eram as atrizes assíduas.

O tema do carnaval, pela óbvia semelhança do descompromisso, da musicalidade e do apelo ao corpo, é recorrente. Técnica e artisticamente, os espetáculos da Companhia Walter Pinto atingem, como se dizia em seu tempo, nível internacional.

O cronista Carlos Machado cita o ator francês Paul Nivoix, sobre Trem da Central, de Freire Jr. e Walter Pinto, 1948: "Nunca imaginei que no Brasil houvesse um produtor de tal força para extasiar o público. O que acabo de ver em Trem da Central é digno de ser mostrado em qualquer parte do mundo sem receio de ser superado".

Na década de 50, o produtor recebe durante quatro anos, três deles seguidos, o prêmio da Associação Brasileira de Críticos Teatrais, ABCT, de melhor produtor de teatro musicado, categoria criada em conseqüência de seu trabalho e muito provavelmente a ele dedicada.

Na mesma coluna, Carlos Machado publica: "O êxito de Walter Pinto é devido, sobretudo, a ele mesmo. Podem figurar nos letreiros luminosos os nomes de Oscarito, Virginia Lane, Grande Otelo ou Mara Rubia, as maiores atrações nacionais. De um momento para outro, esses grandes nomes (...) são obrigados a sair do palco das revistas de Walter Pinto. Saem mas não fazem falta. O êxito é o mesmo... A explicação é óbvia: Walter Pinto apresenta uma revista em conjunto, e é o conjunto que se firma. Sua maior vitória está neste detalhe".

Nos anos 60, o produtor passa a assinar também a direção e o texto dos espetáculo

Fontes: Wikipédia - Enciclopédia virtual; Enciclopédia Itaú Cultural - Teatro.

Geysa Bôscoli

Geysa Bôscoli (Geysa Gonzaga de Bôscoli), teatrólogo, escritor e compositor, nasceu no Rio de Janeiro-RJ, em 25/1/1907, e faleceu na cidade de Caxambu, MG, em 7/11/1978. Sobrinho da compositora Chiquinha Gonzaga, estudou no Colégio Alfredo Gomas e no Ateneu Boscoli, formando-se pela Faculdade de Direito do Rio de Janeiro, em 1927.

Ainda estudante, foi revisor do Jornal do Comércio e repórter do antigo O Imparcial, estreando como autor teatral em abril de 1927, no velho Teatro Lírico, do Rio de Janeiro, com a revista em dois atos Pó-de-arroz, representada pela Companhia Trô-ló-ló.

A partir dessa época, escreveu várias outras revistas, sainetes e operetas, para diversas companhias. Fundou as revistas Ouro Verde e Show, os semanários A Comarca e Correio de Blumenau, da Santa Catarina, além de participar de vários órgãos da imprensa carioca. 

Em 1945 inaugurou o Teatro Regina, hoje denominado Dulcina, com a comédia O grande barqueiro. Em 1940 Orlando Silva gravou na Victor seu fox-blue Naná, enquanto Francisco Alves gravava na Columbia o fox Céu e mar (ambas com Custódio Mesquita e Jardel Jércolis). 

Pioneiro, levou o teatro musicado aos bairros em caráter permanente, lançando em 1948, em Copacabana, o Teatrinho Jardel, que foi o primeiro teatro de bolso, explorando musicais. Recebeu, pela sua atuação nesse teatro de 1950 a 1952, dois diplomas e duas medalhas de ouro, que o consagraram como o Melhor Produtor de Teatro Musicado. 

Foi presidente da SBAT durante seis anos consecutivos, recebendo os títulos de conselheiro benemérito da Casa dos Autores, e escreveu as duas primeiras revistas radiofônicas—consideradas como padrão para espetáculos radiofônicos — Adão e Eva e Carioca da gema, esta de parceria com Jorge Murad, ambas transmitidas pela Rádio Nacional. 

Escreveu o livro A pioneira Chiquinha Gonzaga, edição particular. Entre suas produções para o teatro musicado figuram: O gato de botas, levada no Teatro Municipal; A barca da Cantareira e O que eu quero é rosetá (ambas com Luiz Peixoto), Canta, Brasil (com Paulo Orlando e Luís Peixoto), além de É de colher e Bota o retrato do velho

Fonte: Enciclopédia da Música Brasileira - Art Editora e PubliFOLHA.